4 de agosto de 2015

O PEQUENO PRÍNCIPE - ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY

O PEQUENO PRÍNCIPE - ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY

Um rei pensava que todos eram seus súditos, apesar de não haver ninguém por perto. Um homem de negócios se dizia muito sério e ocupado, mas não tinha tempo para sonhar. Um bêbado bebia para esquecer a vergonha que sentia por beber. Um geógrafo se dizia sábio mas não sabia nada da geografia do seu próprio país. Assim, cada personagem mostra o quanto as “pessoas grandes” se preocupam com coisas inúteis e não dão valor ao que merece. Isso tudo pode ser traduzido por uma frase da raposa, personagem que ensina ao menino de cabelos dourados o segredo do amor: “Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos”.


NOTA SOBRE O LIVRO:

Quantas interpretações este livro pode ter?

Esta já é a terceira vez que eu leio este livro e confesso que das duas primeiras vezes a leitura não foi tão profunda, afinal, para mim bastava naquela época apreciar a história. Aparentemente trata-se de uma fábula ou parábola (como queiram) dirigida a um público infantil, mas a realidade é que qualquer pessoa, de qualquer idade, pode e deve ler. 

Fazendo esta nova leitura, pude notar o que há por trás das mensagens dessa história, afinal, ela possui um alto teor de filosofia. Como assim, Fernanda? Por que filosofia? É que o livro apresenta diversas "situações" da história em que o personagem-narrador, conta determinados acontecimentos através de metáforas, de exemplos aparentemente inocentes para expor o que sente e o que pensa.

A história tem início com um problema no avião do narrador. Enquanto ele tenta arrumar o avião, ele segue contando como fora desencorajado a ser um bom pintor e o trauma que isso acarretou em sua fase adulta. Em determinado ponto em que ele estava temporariamente "preso" no deserto do Saara, ele se depara com "O Pequeno Príncipe", que lhe pede para desenhar um carneiro. Durante muito tempo fora desencorajado a desenhar e agora era justamente o contrário que acontecia.
"As pessoas grandes aconselharam-me deixar de lado os desenhos de jiboias abertas ou fechadas, e dedicar-me de preferência à geografia, à história, ao cálculo, à gramática. Foi assim que abandonei, aos seis anos, uma esplendida carreira de pintor."
Na minha opinião, o piloto tenta passar a mensagem de que as pessoas tendem a influenciar demais as outras com suas opiniões. Com aquilo que elas julgam ser o correto (sem em que situação for). No caso dele, ele dá o exemplo de que poderia ter sido um grande pintor, mas que por influência, acabou estudando e se tornando um piloto de avião. Quando ele apresentou seu desenho inicial ao Pequeno Príncipe, de cara ele soube do que se tratava, então, ele justifica que as crianças são mais perspicazes que os adultos, porque quando nos tornamos adultos passamos a nos preocupar demais com "assuntos mais importantes" e deixamos de lado aquilo que está bem diante de nossos olhos.

Já o Principezinho saiu de seu pequeno planeta onde viva com uma Rosa vaidosa e orgulhosa, em busca de um carneiro. A finalidade do carneiro para o pequeno garoto era para que este simplesmente pudesse comer todos os baobás que cresciam em seu pequeno mundo. O plano era proteger sua Rosa. Ele já havia percorrido diversos planetas e em cada um deles havia encontrado "personagens" que apenas simbolizam as inquietações do "universo adulto" e dentre estes personagens temos: 

No primeiro planeta ele encontrou um Rei soberbo que acreditava ser venerado por todos os seus súditos, mas que na realidade não passava de uma pessoa solitária.

No segundo planeta ele encontrou um homem vaidoso que necessitava de elogios para se sentir bem, mesmo este sendo o único em seu planeta. Também um homem solitário.

No terceiro planeta ele encontrou um homem bêbado. Este alegava que bebia para esquecer sua vergonha. Usava o vício para fugir da realidade de que era um alcoólatra.

No quarto planeta ele encontrou um homem de negócios. Um homem que só vivia para o trabalho e que não tinha tempo para viver. Julgava-se um sujeito sério e que não se preocupava com ninharias. Possuía muito, mas não tinha tempo para desfrutar de nada.

No quinto planeta ele encontrou um acendedor de lampião. Era o menor de todos os planetas visitados. Embora o homem lhe parecesse absurdo, sabia o Príncipe que seu trabalho ao menos fazia algum sentido, no entanto, o homem apenas seguia o regulamento, que era apena acender e apagar o lampião, mas nem ele mesmo sabia para qual finalidade.

No sexto planeta, que era o maior de todos, ele encontrou um homem velho que escrevia livros. Este homem era um geógrafo que deveria saber onde se encontravam os mares, os rios, as cidades, as montanhas e os desertos. No entanto, ele não sabia nada disso a respeito de seu próprio planeta. Como ele mesmo dizia, era um geógrafo e não um explorador, então, não era sua função saber nada disso.

No sétimo planeta, que era a Terra, ele notou que não se tratava de um planeta comum, afinal, contava-se cento e onze reis, mil geógrafos, novecentos mil negociantes, sete milhões e meio de beberrões e onze milhões de vaidosos. Sem contar os quatrocentos e setenta e dois mil e quinhentos acendedores de lampiões para acender e apagar as luzes do planeta antes da invenção da eletricidade. Ou seja, o sétimo planeta reunia tudo o que ele havia conhecido nos seis anteriores.

Qual a mensagem que podemos tirar de tudo isso? Que em qualquer lugar sempre encontraremos pessoas como o rei, o negociante, o vaidoso, o bêbado, o acendedor de lampião, o geógrafo. Esses "personagens" que o garotinho apresenta, nada mais são do que metáforas sobre nós mesmos. Quantas pessoas parecidas com esses personagens (e com outros) que nós conhecemos no nosso círculo de amizades ou até mesmo em nossas famílias?

Foi então que o Principezinho conheceu a Raposa, mas esta ainda era um tanto quanto arisca. Ela ainda não havia sido cativada. Desta forma, para a Raposa, o garoto era apena um garoto igual a cem mil outros e do qual ela não tinha necessidade. A Raposa vivia em uma monotonia só dela, quase que um ciclo vicioso, onde ela caçava as galinhas e era caçada pelos homens. Por conta disso ela possuía uma imensa necessidade de ser cativada. Como se aquela conquista pudesse retirá-la de sua mesmice. Baseada nisso, a Raposa pegou o garoto em seu ponto fraco.
" - A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não tem mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me."


Este livro é conhecido por apresentar diversas frases de cunho motivacional. Como se fosse um tipo de "ajuda" ao leitor. Incentivo na verdade.

Outra percepção que eu tive foi com relação à amizade. O vínculo que o narrador criou com o Príncipe e também, a amizade do mesmo para com a Raposa. O zelo por sua Rosa demonstra claramente aquilo que muitas vezes passa despercebido aos olhos "dos adultos". Em cada uma das frases, aparentemente pertencentes a uma explicação ou a um diálogo, tiramos uma lição, um ensinamento. 

Acredito que o autor tenha sido um gênio ao desenvolver esta história, pois, como adulto, ele não perdeu a essência, a inocência e a percepção de uma criança. A relação que ele faz dos desenhos com a história é algo muito sagaz. Reforço também que, cada um pode fazer a interpretação que quiser sobre o livro. 

Boa leitura!

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